segunda-feira, 15 de abril de 2013

Eu podia ser a Taylor Swift ou a Elsa Raposo. Mas eu tenho um bocadinho mais de categoria.


  Os gajos são todos estúpidos. Os gajos foram estúpidos desde sempre e nunca se deram ao trabalho de disfarçar sequer. Nós, miúdas, é que fingimos não ver ao certo.

  O primeiro indício chegou cedo, andava eu ainda na 2ª classe. Gostava de um rapazito chamado Jorge, aquele tipo que usa camisinha ao xadrez e faz sempre os trabalhos de casa, o que é espertalhão, mas não precisa de lamber as solas da professora.  Era meio feínho, lembro-me que tinha uma espécie de borbulha permanente e avermelhada na bochecha. A dita cuja roubava-lhe qualquer tentativa de protagonismo por parte dos seus olhos banais e castanhos ou dos dentitos cerrados e pequenos que pouco se mostravam quando ria. Acabou comigo porque não pude ir ao magusto da escola, porque fui ao do ATL, em vez. Na verdade, ele queria era saltar em cima da Cristiana, a miúda popular e batoteira, a que todos andavam atrás, mas preferiu culpar-me a mim e às castanhas (e eu nem sequer gostava de frutos-secos ou de fogueiras!!!);

   Muito mais tarde apaixonei-me pelo gajo da paragem do autocarro, comecei a frequentar aquele banco regularmente, sem sequer entrar em transporte algum. Era só mesmo para o observar ao longe, pra ver o que tinha vestido e invejar-lhe a destreza de dedos a jogar snake no Nokia 3310 (creepy). A verdade é que já nos tínhamos cruzado antes, tínhamos amigos em comum que nos juntaram a jogar cartas quando ainda se usavam os chapéus de ganga e as bicicletas de cesto da Vilar. Mas ele era vaidoso e fazia capoeira e eu era toda trapalhona, sem qualquer tipo de desenrascanso para as artes marciais. Mais tarde virou-se para os graffitis e break-dance, sempre na front-line do aparato. Eu também queria vandalizar paredes, até arranjei um nome fictício para não ser apanhada pela polícia (ainda hoje me chamam essa m#$*%), comprei um marcador permanente de dvd’s e comecei a usar calças da resina. Não resultou à primeira, mas a maquilhagem e puberdade beliscaram-lhe a atenção a  certa altura. Perdeu o interesse de súbito depois de ir de férias para o Alentejo. Ainda hoje não percebo o que é que terá acontecido debaixo das azinheiras, mas é certo que ainda estremeço um bocado quando vejo o nome dele no musgo das paredes dos prédios.

  Parece que sempre tive tendência para os aparatosos, os que gostam de dar nas vistas. Aos 16 fiquei de queixo caído pelo beto de cabelo à foda-se com 2m de altura. Adorava falar do aquecimento central que tinha em casa e da empregada que lhe fazia a cama às 5ªs de manhã. Era meloso e desnecessariamente romântico, mandava-me mms’s com o meu nome escrito nos cadernos, todo brega e foleirão, mas eu gostava. Até ao dia em que planeámos ir os 2 à discoteca: ele disse que ia ficar em casa, que não tinha boleia de carro, mas eu fiz questão de ir estrear os sapatos de verniz vermelhos que a minha amiga tinha comprado na Bershka. No dia seguinte acabou comigo, afinal até chegou a sair, foi à discoteca do outro lado da rua e ficou a noite inteira a conversar com a miúda mais gira do hi5. Passei meses a chorar por essa criatura, nunca tinha visto um cabelo que se ajeitasse assim tão bem, em capacete... havia quem lhe chamasse o Manel dos morangos com açúcar, eu não podia abrir mão da minha pseudo-celebridade que vivia nos arredores da cadeia de Custóias!!!

  Mas verdade seja dita, com muita pena minha, também andei a brincar de arremesso com material perecível e valioso. O João Manuel porque era 5 dias mais novo que eu e tinha menos 1cm de altura e o João Miguel porque morava para os lados de Lisboa e adorava fazer-me as vontadinhas (ca chato). Agora gosto de gajos despenteados e narigudos como o primeiro e de intelectuais virados pra música como o segundo. Aliás, se virmos bem, João é nome de gajo com potencial, eu gosto do típico “João”.

  Eu até que gostava de me alongar mais um bocado, de continuar a enxovalhar os meus ex’s com muito carinho, com esta escrita reveladora e maldita, que não insulta, mas envergonha. Mas não posso. Ainda não há força nas pernas para descrever o capítulo das trevas. Sinceramente, temo comparações com a Taylor Swift  ou Elsa Raposo, mas também a conclusão é sempre a mesma: a culpa há-de ser sempre do magusto e das castanhas, do verão das azinheiras, do Cristo-Rei prós lados da capital, da Natacha Braga ou da tartaruga a descoberto no pescoço da serigaita lá da escola. Ninguém jamais se atreveu a dizer que a culpa é provavelmente minha, nem mesmo os envolvidos (e ainda bem!). É para o lado que almofada se amassa melhor, é da maneira que como mais um cheeseburguer ou um chocolatinho!