Quem desenhou com tanta destreza essa boca onde guardas os
meus beijos? Vou tracejando o seu formato na privacidade dos meus pensamentos que, de facto, me insistem na poesia subtil de uma prosa! Quantos rascunhos cor-de-rosa já foram feitos
antes de desaguar na doçura de um beijo teu… E quantos ângulos e noções já se
esqueceram na névoa que pousa na fraca convicção de uma memória. Beija-me sempre,
para que eu não me olvide nunca!
Pergunto novamente, não me conformo: quem desenhou
essa boca tão perfeita onde concluíste na claridade de um sorriso a timidez dissimulada
do rosto? A par da barba que vai crescendo selvagem e desgovernada, não lhe
acrescentaria um único retoque, nada de nada, só os beijos mornos, suaves e
desejosos, que se embrulham, carinhosos, na calma com que se desprendem os
suspiros da alma!
É lá que omites toda a amabilidade com que anuncias
essas palavras gentis que vais dizendo? E se existe mesmo um autor, pergunto-me
o que terá ele visto, onde se terá inspirado, amor, questiono e deslumbro-me
simultaneamente… E mais bela ela seria, eu bem sei, se não se insinuasse tanto em
desculpas e despedidas que se escusam, também, na ausência de um afecto! Mas o
que é que isso importa? Está calor e tenho sede e eu sei que é lá que guardas sem
filtro, tecto ou rede, a saliva que me dissolve toda a saudade!