sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

lábios sem título

  Quem desenhou com tanta destreza essa boca onde guardas os meus beijos? Vou tracejando o seu formato na privacidade dos meus pensamentos que, de facto, me insistem na poesia subtil de uma prosa! Quantos rascunhos cor-de-rosa já foram feitos antes de desaguar na doçura de um beijo teu… E quantos ângulos e noções já se esqueceram na névoa que pousa na fraca convicção de uma memória. Beija-me sempre, para que eu não me olvide nunca! 

  Pergunto novamente, não me conformo: quem desenhou essa boca tão perfeita onde concluíste na claridade de um sorriso a timidez dissimulada do rosto? A par da barba que vai crescendo selvagem e desgovernada, não lhe acrescentaria um único retoque, nada de nada, só os beijos mornos, suaves e desejosos, que se embrulham, carinhosos, na calma com que se desprendem os suspiros da alma! 

  É lá que omites toda a amabilidade com que anuncias essas palavras gentis que vais dizendo? E se existe mesmo um autor, pergunto-me o que terá ele visto, onde se terá inspirado, amor, questiono e deslumbro-me simultaneamente… E mais bela ela seria, eu bem sei, se não se insinuasse tanto em desculpas e despedidas que se escusam, também, na ausência de um afecto! Mas o que é que isso importa? Está calor e tenho sede e eu sei que é lá que guardas sem filtro, tecto ou rede, a saliva que me dissolve toda a saudade!