sábado, 3 de dezembro de 2011

Dou por mim cuidadosa e diligente a escrever-te aquilo que não te digo porque não me atrevo. Agrada-me a falta de endereço e a cautela com que formo metáforas ambíguas, dificilmente decifráveis.

Se virmos bem, não há maior conforto que este: disfarçar um medo que nos experimenta, num discurso complexo e enriçado;

A verdade é que aqui estou eu, violante e clandestina a fugir à vigia atenta dos princípios que tanto me reprovam mas só a mim pertencem. Busco-me e só me encontro no que dizem, efectivamente, não valer o esforço nem a pena. Mas sem querer ser prémio de consolação de ninguém, será realmente errado permitir-me ser o plano secundário que te convém do vazio que te insiste e engole por porções? E não consigo deixar de pensar, ficar, por temer que em breve, de ti, nada sobre mais que nada é arrojo ou fraqueza dissimulada? É destreza emocional ou carência por mim falsificada?

sábado, 12 de novembro de 2011

“Quero ser só e ter só algo mais,


que eu nada sou sem companhia!”. Longe vão os tempos das parelhas de pardais, a apodrecer no marasmo da hipocrisia.

Este mundo já não serve para princesas e eu só quero derreter na pressa dessas tuas mãos acesas, sem qualquer pose para a fotografia.

Tu ainda não sabes se me queres e a mim pouco me importam as indecisões que te espicaçam as lembranças e os dias (desde de que me apertes tanto quanto puderes e que me devores na mais voraz das euforias).

Não sei bem como me sentir, que eu por ti tenho frio e calor ao mesmo tempo… eu só espero que aterres na poesia que mostro na cintura e que me venças esta postura de quem lançou cinzas ao vento!

Adormeço convicta de uma indiferença que não existe, tenho sede e é tua boca que me pede água e na eminência da despedida visto a roupa plácida, que me despiste e é o teu corpo exausto que me esquece e resiste na posição inerte de uma tábua.


-Joana Nardo

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Convenci-me que o mundo era feito para nós e ergui um castelo à luz e encanto de um sonho belo, ao abrigo da melodia calma que me trazia a tua voz.

A destreza dos meus gestos descuidava-se, tantas vezes, debruçada no silêncio da tua ponderação… Mas ver-te contemplar a obra plena de carinho que a minha minúcia edificava, encadeou a incerteza que o meu palácio assombrava, empurrou a resistência perseverante do seu portão!

Julguei que entrasses, eu supus que o que para ti tinha construído, nada mais era que o sonho que a infância te havia prometido, enquanto te cingia à plataforma térrea e rasa, farta em mentiras e disfarces!

Quero agora poder crer que desististe por julgares, que o intervalo entre o meu castelo e o teu era profundo e imenso como o céu, um caminho sinuoso e conturbado. Mas, mesmo assim, visto-me sempre de princesa, espero-te no alto da minha fortaleza, ao ver-te deambular roto e perdido nesse círculo sem promessa, completamente viciado!

sexta-feira, 3 de junho de 2011


Tivesse o tempo e a sua erosão ficado cingidos à deformação dos ideais Daqueles em que em nada criam. É triste constatar, que os verdes anos onde fomos tontos e desprendidos acabaram por ser, na verdade, nada mais que o puro manifesto das nossas pretensões, onde o medo, o conformismo e a distância não limitavam o conteúdo dos nossos almejos. Ninguém é quem queria ser, mas, tem de ser mesmo isto aquilo em que nos tornámos?

domingo, 17 de abril de 2011

às vezes não consigo escrever-te. sinto-te em tanta coisa e faltam-me as palavras. as rimas tornam-se inúteis na iminência de uma lembrança tua e as saudades esmagam-me a destreza dos dedos e das ideias. mas,no fundo, digo sempre a mesma coisa: que te amo, mas julgo não te entender.

hoje, intento apenas dizer-te, que neste dia em particular, padeci das mais excruciantes saudades tuas. quis falar-te na esperança que dispersasses e não me ouvisses realmente, que não me visses enfranquecer na franqueza do meu discurso. calei-me perante a tua provável indiferença postiça, e cingi esta palavras desorientadas para que te abalem o desapego e o desdém que então me julgas ter.

sábado, 12 de março de 2011


Estrela-alva dos meus olhos, tu és a razão para que, na noite, as janelas se apagam! Os flancos do meu corpo desmaiam em folhos para se animarem na candeia dos teus olhos, no carinho que tuas mãos afagam!

Tu não vês, mas sabes ser-me melhor que qualquer um! E eu, se me distraio de quando em vez, desempenho-te, espontânea, com a mais perfeita fluidez, sem que tenha intento algum…

És o meu lado fulgente, florescente, e eu serei, certamente, o teu lado lusco, imperfeito, lunar! Embora o meu vício de ti te desconcerte e desconcentre, lembra-te que foi no âmago do meu ventre que te tricotaram, erótico, o aconchego de um ninho…

E se um dia me sentires a falta, não há árvore que seja demasiado alta, para receber a visita de um passarinho!!!

-Joana Nardo

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Verdade ou Consequência



Espero-te tanto e tu, seguro, estendes-te, adias-me e demoras! Estou entediada, sem crenças, nem futuro e pouco tardo em adormecer-me no silêncio deste escuro, de tão compridas que são as conjecturas e as horas! Mas tu conheces-me, amor, tu sabes que o meu sono desassossega na claridade dum raio de luz… E quando chegas discreto e de mansinho, sinto-te frio e liso como o linho, atravessas-me a alma a medo e cruz.

Com medo que partas precipitado, nesse teu ímpeto que me confunde e atordoa, prolongo o meu sono fingido e dissimulado, que te mantém a culpa na esfinge da cabeceira, onde a consciência, de todo o modo, desaprova, delibera e perdoa de qualquer maneira!

Eu sei que gostas de jogar de faz de conta, eu confesso que sempre preferi o “verdade ou consequência”, mas se só nessa circunstância uma lembrança minha desponta, então é para esse lado que meu bom senso aponta e onde me acenam, inevitáveis, os remorsos da demência!


-Joana Nardo