segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Primeira Carta

   Semente linda e perfeita, a germinar lentamente no meu ventre… Eu sei que o céu ainda não está claro, azul e perfeito, como te prometeu a natureza apaixonada do meu leito, ao semear-te em terra ainda quente! Mal posso esperar por ver-te brotar violante e impetuosa, com o perfume com que nos deslumbram as rosas, num sol de verão cálido e ardente.

   Sem que a minha tristeza te comova ou desole lembra-te, que qualquer raiz seria frouxa e mole, sem que chegasse em boa sorte uma chuva desgostosa e forte, no suspiro de um sol poente!!! Ainda que o sol seja quase sempre de pouca dura, concebo-te, assim, sensível e pura, abrigada dos vendavais onde desertam os menos crentes.

 Sinto-te vibrante e vigorosa a expandires-te, corajosa, no meu corpo fragilizado e ainda dormente. E já na contracurva desta prosa, imagino todas as rimas do teu riso cor-de-rosa, essa melodia que irá despertar com doçura, o meu coração cansado e descontente!

  Já te amo tanto e ainda nem te vi… abraço-te neste aperto onde as palavras nos aproximam invisíveis, nesta morna cumplicidade precoce e maternal. A Primavera que a tua vida nos promete, prende-me o corpo numa calma, com que se veste na alma a firmeza de um corpete!


  Aguardo-te com a mesma paciência com que os passarinhos cantam no escuro de uma alvorada, que em silêncio se aproxima. Em ânsia, vislumbro o jardim onde a minha vida se comove, para que lá possa florescer tão nobre, a tua luz tamanha e divina. Em breve deverei ser a mulher que represento na imaginação onde evaporam todas as minhas ideologias… Para que tu possas cobrir a mágoa dos meus dias, no teu manto de inocência cândida, na ternura dos teus sonhos e vibrantes fantasias!