Aflige-me
o ardor com que se desprende a sua voz. É como se as palavras se entornassem em
café, numa amargura açucarada e quente. É um discurso que me desconcerta, mas raramente
atento naquilo que diz. Não que não me interesse aquilo que fala, mas acabo
sempre por distrair-me com pormenores de 2ª linha: o timbre termoestático, os
olhos que lhe acompanham a linguagem numa coreografia coordenada que se antecipa
sempre àquilo que diz. As palavras que escolhe a dedo causam-me este abalo, mas
é o rigor do seu olhar intenso que me engole à primeira tentativa! Se o vejo, ofereço
resistência numa conversa previamente definida, um diálogo estático que se
desdobra em piloto automático. As minhas palavras atropelam-se e encolhem-se na
pressa de fazer algum sentido, no que se revela ser, posteriormente, uma maratona perpétua e imprevisível.
Mas depois de tanto esforço, reconheço que apenas surgem teorias sem emprego ou
nexo…
Incomoda-me
constatar que apenas me conhece este olhar perdido e vago, que imagina, nos
entretantos, estas coisas que lhe escrevo, mas… tento encontrar aqui um lado suportável
e positivo: será que o impacto destas palavras seria o mesmo se apenas
dirigidas à avaliação daquilo que interpreta? Não passariam a correr no contra-relógio
das sentenças instantâneas que delibera, na ausência de repetições/reproduções?
Sem comentários:
Enviar um comentário