quarta-feira, 2 de maio de 2012

reflexões da consciência avinagrada


  Aflige-me o ardor com que se desprende a sua voz. É como se as palavras se entornassem em café, numa amargura açucarada e quente. É um discurso que me desconcerta, mas raramente atento naquilo que diz. Não que não me interesse aquilo que fala, mas acabo sempre por distrair-me com pormenores de 2ª linha: o timbre termoestático, os olhos que lhe acompanham a linguagem numa coreografia coordenada que se antecipa sempre àquilo que diz. As palavras que escolhe a dedo causam-me este abalo, mas é o rigor do seu olhar intenso que me engole à primeira tentativa! Se o vejo, ofereço resistência numa conversa previamente definida, um diálogo estático que se desdobra em piloto automático. As minhas palavras atropelam-se e encolhem-se na pressa de fazer algum sentido, no que se revela ser, posteriormente, uma maratona perpétua e imprevisível. Mas depois de tanto esforço, reconheço que apenas surgem teorias sem emprego ou nexo…

Incomoda-me constatar que apenas me conhece este olhar perdido e vago, que imagina, nos entretantos, estas coisas que lhe escrevo, mas… tento encontrar aqui um lado suportável e positivo: será que o impacto destas palavras seria o mesmo se apenas dirigidas à avaliação daquilo que interpreta? Não passariam a correr no contra-relógio das sentenças instantâneas que delibera, na ausência de repetições/reproduções?

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