Hoje diverti-me a escandalizar as amigas com um pessimismo
tão cruel, que lhes abalou um bocado a realidade. Aquele ligeiro tremor de
terra-metafórico, que só sentem os que estão sentados na porcelana da sanita. É
certo que me limitei a falar de mim, dos planos pro futuro que ainda não tenho,
aquelas expectativas esvaziadas que se vão ensaiando num discurso de quem já
chegou ao final da linha. Confesso que lhes saquei algumas expressões de terror
“ai, pelo amor de Deus, as coisas não têm necessariamente que ser assim!”, os
olhos a escancararem-se de medo, a voz a esganiçar-se de espanto, a mão que esconde
da boca o embaraço, como se as minhas derrotas fossem precoces, um terrível presságio
para os sonhos patéticos delas.
Eu limitei-me a dizer com franqueza, que não gosto de Alicia
Keys e não me revejo nos dramas da Adele.
Detesto peluches, rosas ou chocolates. Não uso casacos com capuchinhos de urso
ou de gato. Quando tirei a carta, não escrevi no facebook “mais um perigo na estrada, ehehe” e, felizmente, nunca me deu para mostrar as minhas grandes mamas num bikini com a
legenda “verão volta, estás perdoado” . Não tenho qualquer interesse em filmes
como o Star Wars, Avatar ou Senhor dos Anéis. Simpatizo com cães, mas sou uma
gaja mais inclinada para os gatos e ainda sou capaz de aproveitar as noites de
insónia para premeditar nos nomes dos filhos todos que gostaria de conceber,
sei lá eu ainda com quem. Sou a emproada dos saltos altos que gosta de ver a bola e
é comunista. Já para não falar que escrevo um blog chamado “Clausura dos Dias”,
que em vez de me mostrar como uma grandessíssima intelectual, apenas reforça o
meu estatuto já antigo de emo mal-resolvida.
Quando era teenager achava que a minha felicidade e sucesso estavam
directamente relacionados com a contagem decrescente para a extracção do meu
maldito aparelho ortodôntico, mais a tentativa de uma Licenciatura aborrecida e
esquisita e com o êxito naquela dieta radical que nunca consegui levar até ao
fim. Lamento em reconhecer que não existe Teresa Guilherme nenhuma no mundo,
que me consiga emparelhar com outra ave-rara qualquer. O que não é mau de todo,
eu cá acredito que existem certas espécies às quais não se deve mesmo dar
continuidade, mas… a rouquidão do Eddie Vedder recordou-me um filme cujo final
concluía que, independentemente daquilo que uma gaja faça ou diga, a felicidade
só é realmente verdadeira quando partilhada… Será que chegou a
hora de criar uma conta no Badoo, ou será que devo continuar a fantasiar com o
trashy hippie lá da escola, que me insulta e não toca viola e que gosta de
conduzir sempre a 120?
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