sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

lábios sem título

  Quem desenhou com tanta destreza essa boca onde guardas os meus beijos? Vou tracejando o seu formato na privacidade dos meus pensamentos que, de facto, me insistem na poesia subtil de uma prosa! Quantos rascunhos cor-de-rosa já foram feitos antes de desaguar na doçura de um beijo teu… E quantos ângulos e noções já se esqueceram na névoa que pousa na fraca convicção de uma memória. Beija-me sempre, para que eu não me olvide nunca! 

  Pergunto novamente, não me conformo: quem desenhou essa boca tão perfeita onde concluíste na claridade de um sorriso a timidez dissimulada do rosto? A par da barba que vai crescendo selvagem e desgovernada, não lhe acrescentaria um único retoque, nada de nada, só os beijos mornos, suaves e desejosos, que se embrulham, carinhosos, na calma com que se desprendem os suspiros da alma! 

  É lá que omites toda a amabilidade com que anuncias essas palavras gentis que vais dizendo? E se existe mesmo um autor, pergunto-me o que terá ele visto, onde se terá inspirado, amor, questiono e deslumbro-me simultaneamente… E mais bela ela seria, eu bem sei, se não se insinuasse tanto em desculpas e despedidas que se escusam, também, na ausência de um afecto! Mas o que é que isso importa? Está calor e tenho sede e eu sei que é lá que guardas sem filtro, tecto ou rede, a saliva que me dissolve toda a saudade!

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Primeira Carta

   Semente linda e perfeita, a germinar lentamente no meu ventre… Eu sei que o céu ainda não está claro, azul e perfeito, como te prometeu a natureza apaixonada do meu leito, ao semear-te em terra ainda quente! Mal posso esperar por ver-te brotar violante e impetuosa, com o perfume com que nos deslumbram as rosas, num sol de verão cálido e ardente.

   Sem que a minha tristeza te comova ou desole lembra-te, que qualquer raiz seria frouxa e mole, sem que chegasse em boa sorte uma chuva desgostosa e forte, no suspiro de um sol poente!!! Ainda que o sol seja quase sempre de pouca dura, concebo-te, assim, sensível e pura, abrigada dos vendavais onde desertam os menos crentes.

 Sinto-te vibrante e vigorosa a expandires-te, corajosa, no meu corpo fragilizado e ainda dormente. E já na contracurva desta prosa, imagino todas as rimas do teu riso cor-de-rosa, essa melodia que irá despertar com doçura, o meu coração cansado e descontente!

  Já te amo tanto e ainda nem te vi… abraço-te neste aperto onde as palavras nos aproximam invisíveis, nesta morna cumplicidade precoce e maternal. A Primavera que a tua vida nos promete, prende-me o corpo numa calma, com que se veste na alma a firmeza de um corpete!


  Aguardo-te com a mesma paciência com que os passarinhos cantam no escuro de uma alvorada, que em silêncio se aproxima. Em ânsia, vislumbro o jardim onde a minha vida se comove, para que lá possa florescer tão nobre, a tua luz tamanha e divina. Em breve deverei ser a mulher que represento na imaginação onde evaporam todas as minhas ideologias… Para que tu possas cobrir a mágoa dos meus dias, no teu manto de inocência cândida, na ternura dos teus sonhos e vibrantes fantasias! 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O namorado que me quer vender o gato


Com certeza que qualquer um de nós já deu por si acompanhado de alguém, que a certa altura (geralmente a menos conveniente) vos fez pensar “mas afinal de contas… quem és tu, caralho?!”; Alguém que, pela exposição da convivência e da intimidade, julgaram conhecer tão bem como os anúncios repetitivos e já pouco surpreendentes do kinder chocolate.

Eu, já repetente nos desgostos amorosos, convenci-me que a solução para todas as minhas inseguranças estaria na busca do homem ideal. Erradamente e à semelhança dos anúncios de lingerie/ maquilhagem altamente manipulados pelo Photoshop, fui levada a crer que o homem que toda a mulher quer (mas ainda não sabe) é aquele que é bonzinho, mas que não faz as vontadinhas todas, o que é bonitinho, mas não muito, senão  as outras olham todas e isso é uma grande chatice, o que é inteligente, mas não se sente intimidado pelo teu vasto conhecimento em culinária ou pirotecnia a dois. O que “só” tem olhos para ti. Eu, achei-me quase pioneira nesta experiência! Afinal de contas, diz-se que as mulheres gostam é daqueles que as tratam mal, dos que têm tatuagens e cheiram sempre a vinho e eu, outrora embriagada nesse veneno preconceituoso e generalista, quis experimentar o outro lado da margem. Nestas merdas, não se constroem pontes e vai ser lixado, porque vais acabar a nadar de volta para o outro lado e vais estar cansada e desconfiada da corrente.

Lamentavelmente, os nice guys, os politicamente correctos, por vezes revelam-se ainda mais cruéis e nocivos que os assumidamente cabrões e desonestos. Aquele gajo que não parte um prato, geralmente é o que te vai estilhaçar o coração sem aviso prévio e ainda passar com uma 4x4 cheio de adrenalina por cima. Vais ser tão apanhada de surpresa que vais ficar atordoada e desorientada a pensar como é que isto foi sequer acontecer. Tu que não te deixas enganar e estás sempre atenta. Tu que pensaste que eras a dona de casa e amante consagrada e pensaste que isto estava mais que no papo.

Os gajos bonzinhos geralmente são cobardes. São os aqueles que amuam e não dizem o porquê de estarem chateados (parece que não são só as mulheres que fazem isso!). Os que andam a moer qualquer coisita, mas que fingem estar felizes porque a vida aborrecida e sem grandes atrevimentos deixou-os assim dormentes na sua fraca competência de viver. Um nice guy, nada mas é que uma alma que chegou atrasada às desventuras do amor e que ainda não tinha tido a oportunidade certa para falhar redondamente.

Tu estás lá, como quem estica as pernas na mesa anã na frente do sofá, confortavelmente segura de ti num relacionamento sem grandes crises e desafios. Até chegar o dia que ele diz, que se calhar, é melhor ir “comprar cigarros” e não levar a chave, nem voltar a tocar à porta. Sim, já visto acontecer muitas vezes. A rapariga de coração partido que decide dar uma chance ao stalker que a perseguiu no secundário “Ah, ao menos este gosta de mim”. A descrente no amor, que decide apostar no rapaz outrora perpetuado na friendzone. Ou, como no meu caso, aquela que achou por bem dar uma hipótese àquele gajo ainda meio chavalo, porque ele ri-se todo quando a vê na frente, porque  vai comprar batatas fritas quando estás irritada e a ir às lágrimas na iminência de mais um período menstrual. Aquele pateta que larga tudo para te ver, que beija o chão que tu pisas com chulé recém-chegado das sapatilhas do ginásio. Cuidado! Não quero tornar isto numa verdade pessimista e universal, mas se te identificas com algum destes estereótipos, é bastante provável que estejas prestes a passar por um desgosto calamitoso, que vai causar estragos sem precedentes.

Vai chegar o dia em que, de repente, sem que nada o fizesse anunciar ele te mande uma sms a dizer “sabes, não dá mais”, “não és tu, sou eu”, “acho que preciso de um tempo para mim”; O gajo que detestava Paulo Coelho, mas agora te esfrega com os clichés dele na cara. Aquele palerma que te idolatrava e, que tu, consequentemente, foste adorando e bajulando na mesma medida, vai perceber que lhe falta qualquer coisinha, e esse pequeno detalhe, não és tu certamente. Talvez seja a Janete do curso de arquitectura ou a simples influência do amigo solteiro que é alérgico a compromissos e latéx. Talvez seja a personagem principal da nova série que ele assiste no Netflix, sabemos lá... Tu vais-te sentir idiota ao relembrar que chegaste até a achar, que se calhar, o teu namorado tão devotado em conquistar-te, gosta um bocadinho mais de ti, que tu dele… Vais contorcer-te ao pensar que quase te sentiste mal por isso, hahahahahaha!

A boa notícia, é que como em qualquer outra crise, chega o clarão da lucidez, e ele vai-se arrepender. Talvez não te vá servir de grande consolo, mas pode levar meses, ou anos. Pode ser que nem te diga nada. Mas chega sempre aquele tesão da meia-noite solitário em que ele vai pensar que provavelmente está solteiro porque foi um bocado parvo. Vai ter medo de morrer sozinho e decompor-se ao lado da playstation, ou das meias com raquetes, ainda por  lavar. Ele vai pensar que aquela histérica meio chata, que jogava numa liga bem acima da dele, na verdade fez-lhe um favor tão grande, que agora é difícil encontrar algum contentamento. Ele que achou que se conseguiu esta, se calhar conseguia qualquer uma, que o céu é o limite. Ele vai na verdade apodrecer aos poucos nos seus remorsos e angústias. E tu, que já curaste a ressaca da tristeza e da loucura, deixarás de te perguntar o que é que fizeste de errado, ou pior, o que é podias ter feito de maneira diferente. Vais estar certamente a jogar outra vez na tua liga, no outlet dos despreocupadamente imperfeitos. Vais pensar onde raio é que tinhas a cabeça para teres baixado os teus padrões e normas, num momento de insegurança ou fraca estima.

Tu vais ficar bem, afinal, ele também te fez um grande favor a ti: deixou-te mais livre e disponível para algo merecedor da tua dedicação e do teu tempo já escasso! O importante é não deixar que ele te venda o gato, ou te faça ponderar um ex-namorado qualquer igualmente idiota e desolador. Talvez esteja na hora de aprenderes a ser feliz sozinha, para que se alguém te resolva acompanhar daqui por diante não o faça sequioso por uma mera companhia, pela ameaça recorrente da monotonia ou solidão, pelo cansaço do punho direito.

Eu repito: só não deixes que ele te venda o gato, ele vai fazer-te muito jeito aos pés da cama no inverno quando concluíres que as freiras é que estão bem, mas tu estás demasiado afeiçoada aos pecados mundanos da moda e da tecnologia e o lesbianismo não é bem a tua cena.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

encontrei uns olhos castanhos (como os da minha poesia!)

  O amor passa sempre na minha rua, abranda, pára e continua, como quem segue a procurar. Às vezes já nem espero (tantas foram as vezes em que nem o vi passar!). Vai ligeiro com uma pressa que não aguarda nem recua, com uma cara que não é a tua e traz um dos pés já pronto para não entrar. Tenho tempo e já não espero, acho que resolvi escapar também: trilhar caminho nas minhas pedras, começar do zero… andar sozinha sem procurar alguém! 

  O amor ainda não o vi, mas logo te encontrei a ti e o tempo mal passou que ainda é cedo! Ainda não sei se me enganei ou confundi, mas sigo ali, como quem tem a certeza a ferro e medo. Não sei se espere agora eu por ti, sorte seria achar-te aleatoriamente justo à minha primeira paragem… mas deixar para trás este entusiasmo em que me senti, seria a covardia que eu tanto temi, era dar a cara à sacanagem!  E é este o desabafo, que não controlo ou, que ainda menos eu abranjo ou compreendo. Não sei se este é o silêncio que pede a calma, ou de um amor de ainda novo na alma, já me vai apodrecendo!!!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

graças a Deus que já não estou no 5º ano

  Já reparei que os meus textos têm muito mais aderência quando narro acontecimentos ridículos do passado, em vez do emparelhamento das minhas emoções incompreendidas (aquelas descrições cheias de nós, em círculos infinitos onde se confunde a sinceridade da minha prosa com a complexidade de uma poesia qualquer). Na verdade eu sou mais natural assim, grave e séria, à margem da compreensão, irresoluvelmente complicada, mas... confesso que "rir para não chorar" é uma filosofia de vida que tenho vindo a levar a cabo sem remorsos  ou arrependimentos.

  Então lembrei-me do primeiro dia de aulas do 5º ano. Nem eram bem aulas aquilo, era mais uma apresentação à turma, para se conhecerem os colegas. Era também o dia dos meus anos. Conhecia 60% da gente que ali estava, tinham andado a jogar ao cola-e-descola comigo na era dos piolhos na escola primária. Os rapazes transpiravam-se todos a jogar à bola,  davam pau e cacete nas canelas. As mochilas do ano anterior ainda rotas nos cantos de já arrastarem no asfalto, aqueles buraquinhos tímidos que mostravam os livros aborrecidos, acabados de encapar na papelaria. O gordo ia sempre à baliza, o escanzelado atirava-se sempre para o chão e fingia que chorava, os outros prosseguiam sem fazer caso, alguém gritava "f"$%-se, é falta c$%&?@$ !!!".  As miúdas cochichavam, riam-se baixinho, comparavam as calças novas da resina, ou da ruivinha de totós que fazia gestos obscenos com o dedo. Havia uma miúda que tinha umas de ganga em cor-de-rosa bebé!!! E eu esturricava ao sol de fatiota de linho (repito, era o dia dos meu anos), cheia de inveja, como se a porcaria das calças dreads que se repetiam em cores, feitios e tamanhos não bastassem -quanto mais largas em baixo, melhor- reparei noutra variável comum entre elas, uma tendência gritante da moda que mais uma vez me excluía: soutiens de alças de silicone!!! Ora, primeiro que tudo, para usar um singelo soutien de alças, existe a eminente necessidade de sustentação de mamas e eu nem caroços tinha!!! Mas alças de silicone... alças de silicone com brilhantes... já exigiam mamas em exagero, já era preciso caixa de ar, largura de costas, copas B, mamilos que se arrepiam com o frio. E eu ali, vestida de linho, sem nada. O máximo que conseguia arranjar era um soutien de desporto 100% algodão bordado na feira da Senhora da Hora com um bambi a comer flores no Disney prado . Fiquei desolada no meu aniversário, não tinha mamas, nem calças largas, amigos ou auto-estima. Tinha apenas 11 anos e isso, por si só não me bastava... (Podia ainda referir os fios com pérolas de brilhantes que se colavam ao cabelo, as mochilas da eastpak mas por hoje basta).

  Hoje tenho 22 e sou meio corcunda, acho que verguei um bocado para a frente. Parece-me mesmo que ouviram o desespero das minhas preces, mas voltaram a falhar na proporção. Acho que nunca cheguei a usar soutiens de alças de silicone, aquilo colava-se à pele com o suor, às vezes até arrancava pêlos!!! Ainda bem que já não faço anos no primeiro dia de escola (toda a gente se esquecia anyway), ainda bem que já não existem alcinhas transparentes… Graças a Deus que já não estou no 5º ano.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Eu podia ser a Taylor Swift ou a Elsa Raposo. Mas eu tenho um bocadinho mais de categoria.


  Os gajos são todos estúpidos. Os gajos foram estúpidos desde sempre e nunca se deram ao trabalho de disfarçar sequer. Nós, miúdas, é que fingimos não ver ao certo.

  O primeiro indício chegou cedo, andava eu ainda na 2ª classe. Gostava de um rapazito chamado Jorge, aquele tipo que usa camisinha ao xadrez e faz sempre os trabalhos de casa, o que é espertalhão, mas não precisa de lamber as solas da professora.  Era meio feínho, lembro-me que tinha uma espécie de borbulha permanente e avermelhada na bochecha. A dita cuja roubava-lhe qualquer tentativa de protagonismo por parte dos seus olhos banais e castanhos ou dos dentitos cerrados e pequenos que pouco se mostravam quando ria. Acabou comigo porque não pude ir ao magusto da escola, porque fui ao do ATL, em vez. Na verdade, ele queria era saltar em cima da Cristiana, a miúda popular e batoteira, a que todos andavam atrás, mas preferiu culpar-me a mim e às castanhas (e eu nem sequer gostava de frutos-secos ou de fogueiras!!!);

   Muito mais tarde apaixonei-me pelo gajo da paragem do autocarro, comecei a frequentar aquele banco regularmente, sem sequer entrar em transporte algum. Era só mesmo para o observar ao longe, pra ver o que tinha vestido e invejar-lhe a destreza de dedos a jogar snake no Nokia 3310 (creepy). A verdade é que já nos tínhamos cruzado antes, tínhamos amigos em comum que nos juntaram a jogar cartas quando ainda se usavam os chapéus de ganga e as bicicletas de cesto da Vilar. Mas ele era vaidoso e fazia capoeira e eu era toda trapalhona, sem qualquer tipo de desenrascanso para as artes marciais. Mais tarde virou-se para os graffitis e break-dance, sempre na front-line do aparato. Eu também queria vandalizar paredes, até arranjei um nome fictício para não ser apanhada pela polícia (ainda hoje me chamam essa m#$*%), comprei um marcador permanente de dvd’s e comecei a usar calças da resina. Não resultou à primeira, mas a maquilhagem e puberdade beliscaram-lhe a atenção a  certa altura. Perdeu o interesse de súbito depois de ir de férias para o Alentejo. Ainda hoje não percebo o que é que terá acontecido debaixo das azinheiras, mas é certo que ainda estremeço um bocado quando vejo o nome dele no musgo das paredes dos prédios.

  Parece que sempre tive tendência para os aparatosos, os que gostam de dar nas vistas. Aos 16 fiquei de queixo caído pelo beto de cabelo à foda-se com 2m de altura. Adorava falar do aquecimento central que tinha em casa e da empregada que lhe fazia a cama às 5ªs de manhã. Era meloso e desnecessariamente romântico, mandava-me mms’s com o meu nome escrito nos cadernos, todo brega e foleirão, mas eu gostava. Até ao dia em que planeámos ir os 2 à discoteca: ele disse que ia ficar em casa, que não tinha boleia de carro, mas eu fiz questão de ir estrear os sapatos de verniz vermelhos que a minha amiga tinha comprado na Bershka. No dia seguinte acabou comigo, afinal até chegou a sair, foi à discoteca do outro lado da rua e ficou a noite inteira a conversar com a miúda mais gira do hi5. Passei meses a chorar por essa criatura, nunca tinha visto um cabelo que se ajeitasse assim tão bem, em capacete... havia quem lhe chamasse o Manel dos morangos com açúcar, eu não podia abrir mão da minha pseudo-celebridade que vivia nos arredores da cadeia de Custóias!!!

  Mas verdade seja dita, com muita pena minha, também andei a brincar de arremesso com material perecível e valioso. O João Manuel porque era 5 dias mais novo que eu e tinha menos 1cm de altura e o João Miguel porque morava para os lados de Lisboa e adorava fazer-me as vontadinhas (ca chato). Agora gosto de gajos despenteados e narigudos como o primeiro e de intelectuais virados pra música como o segundo. Aliás, se virmos bem, João é nome de gajo com potencial, eu gosto do típico “João”.

  Eu até que gostava de me alongar mais um bocado, de continuar a enxovalhar os meus ex’s com muito carinho, com esta escrita reveladora e maldita, que não insulta, mas envergonha. Mas não posso. Ainda não há força nas pernas para descrever o capítulo das trevas. Sinceramente, temo comparações com a Taylor Swift  ou Elsa Raposo, mas também a conclusão é sempre a mesma: a culpa há-de ser sempre do magusto e das castanhas, do verão das azinheiras, do Cristo-Rei prós lados da capital, da Natacha Braga ou da tartaruga a descoberto no pescoço da serigaita lá da escola. Ninguém jamais se atreveu a dizer que a culpa é provavelmente minha, nem mesmo os envolvidos (e ainda bem!). É para o lado que almofada se amassa melhor, é da maneira que como mais um cheeseburguer ou um chocolatinho!

quarta-feira, 6 de março de 2013

às vezes mais vale criar uma conta no Badoo


  Hoje diverti-me a escandalizar as amigas com um pessimismo tão cruel, que lhes abalou um bocado a realidade. Aquele ligeiro tremor de terra-metafórico, que só sentem os que estão sentados na porcelana da sanita. É certo que me limitei a falar de mim, dos planos pro futuro que ainda não tenho, aquelas expectativas esvaziadas que se vão ensaiando num discurso de quem já chegou ao final da linha. Confesso que lhes saquei algumas expressões de terror “ai, pelo amor de Deus, as coisas não têm necessariamente que ser assim!”, os olhos a escancararem-se de medo, a voz a esganiçar-se de espanto, a mão que esconde da boca o embaraço, como se as minhas derrotas fossem precoces, um terrível presságio para os sonhos patéticos delas.

   Eu limitei-me a dizer com franqueza, que não gosto de Alicia Keys  e não me revejo nos dramas da Adele. Detesto peluches, rosas ou chocolates. Não uso casacos com capuchinhos de urso ou de gato. Quando tirei a carta, não escrevi no facebook  “mais um perigo na estrada, ehehe” e, felizmente, nunca me deu para mostrar as minhas grandes mamas num bikini com a legenda “verão volta, estás perdoado” . Não tenho qualquer interesse em filmes como o Star Wars, Avatar ou Senhor dos Anéis. Simpatizo com cães, mas sou uma gaja mais inclinada para os gatos e ainda sou capaz de aproveitar as noites de insónia para premeditar nos nomes dos filhos todos que gostaria de conceber, sei lá eu ainda com quem. Sou a emproada dos saltos altos que gosta de ver a bola e é comunista. Já para não falar que escrevo um blog chamado “Clausura dos Dias”, que em vez de me mostrar como uma grandessíssima intelectual, apenas reforça o meu estatuto já antigo de emo mal-resolvida.

    Quando era teenager achava que a minha felicidade e sucesso estavam directamente relacionados com a contagem decrescente para a extracção do meu maldito aparelho ortodôntico, mais a tentativa de uma Licenciatura aborrecida e esquisita e com o êxito naquela dieta radical que nunca consegui levar até ao fim. Lamento em reconhecer que não existe Teresa Guilherme nenhuma no mundo, que me consiga emparelhar com outra ave-rara qualquer. O que não é mau de todo, eu cá acredito que existem certas espécies às quais não se deve mesmo dar continuidade, mas… a rouquidão do Eddie Vedder recordou-me um filme cujo final concluía que, independentemente daquilo que uma gaja faça ou diga, a felicidade só é realmente verdadeira quando partilhada… Será que chegou a hora de criar uma conta no Badoo, ou será que devo continuar a fantasiar com o trashy hippie lá da escola, que me insulta e não toca viola e que gosta de conduzir sempre a 120?