segunda-feira, 28 de junho de 2010

«Dávamos as mãos e os nossos olhares perguntavam-se o que seria querer realizar em carne a ilusão do amor»



E o teu olhar em mim indagava, talvez, o toque etéreo, inflamável, que nos meus olhos a carne prometia! Buscar num olhar desaustinado o desafogo aluído e agradável é caminhar brusco em ponte instável, é desafiar acender-me como candelabro em plena luz do dia!

"Ah pudéssemos amar-nos sem que existíssemos e possuír-nos sem que ali estivéssemos" apartámos nossas mãos geladas, como se agora o desejo nos fosse alheio ou meramente domesticado! Amar também é abordar as faces de um rosto exímio, num beijo evasivo e disciplinado!

Mas mais não me ralo, a mim já não me faz caso o amor! Sentir teu beijo controlado e superentendido é receber fogo suave na pétala de uma flor, é vestir sexualidade, má índole, na elegência de um vestido!


Amar deveria ser assim mesmo, edifica-lo na insegurança de uma talvez! Querer-te sem promessas, compromissos, juras ou palavras, ser sempre a tua princesa do "Era uma vez"...









Joana Nardo.

estranhas coincidências



Quando a tranquilidade e quietude me abandonam e em ti o tempo escorre em reticências, constato, que sempre acabo por me reerguer sozinha, pois sou o luto da andorinha que adeja isolado, longe do índigo azul das aparências.


Perdoo-te porque desconheces o amor! Desespero por tanto teimar em amar-te, mas logo me pauso e penso: de que me serve atear, incansável, fogo cuja chama arde isenta de calor, que quando cessas e descansas, logo tende a ficar suspenso, a esbrasear?


Chorar-te na repetição dos dias é resistir a uma tristeza feroz que te submerge e assola, é melancolia serena que teimosamente te afunda no mesmo compasso em que estala o gatilho de uma pistola... E quando aspiro ver-me de ti acompanhada dou por mim em desalento, cercada, pela mais irónica das solidões, pela demência mais insistente e profunda. Jazo na pobreza dos dias sem ser merecedora da mais somítica esmola!


Quando os papéis se invertem e experimentas, o que em tom de privilégio ignoraste, reconheces que o tempo é a estranha coincidência onde sempre escorregaste e que as peculiaridades do destino sempre se repetem !


Joana Nardo

domingo, 20 de junho de 2010

amar sem término e proporção,






Desperto de repente, deixei-me embalar pela crueldade do teu silêncio! Na negação da tua ausência, engulo a saudade, experimento a demência, trago nos olhos o luto e pranto no mais profundo e errático suplício. Encarar-te de mim indiferente é impiedade, sevícia é privação e malícia, é atrocidade e sacrifício !

Na renúncia e penitência a que me sujeitas constato, que mesmo as estrelas desvanecidas e rarefeitas permanecem imponentes, perfeitas, luzem inconformadas na claridade das manhãs e dos dias! Eu amanheço reluzente como astro, insistente estrela que arde em teu regaço, eu sou como anónimo suporte, incógnito abraço... eu sou a brisa que te desperta do tédio, que refuta a mais crédula de tuas teorias!

Mas amar-te sem término ou proporção já me basta, pois a maré de tão ousada também arrasta a areia que resiste às suas persistentes acrobacias. Escuto e o nosso amor é o melodioso soar de um pássaro em contradição com a noite e suas penosas chagas. E recordo-te, que sendo eu vento insistente, alvoroço, agitação estridente, não tardo em reacender os fogos que em vão apagas!





Joana Nardo.