segunda-feira, 19 de julho de 2010

“Sempre que eu insisto eu esqueço que existo. Agora sim não falo só por mim, eu quero-te a provar do que é teu.”





E a cada intenção falhada é apenas mais uma bofetada, já estava previsto! À flor mais bonita do jardim é-lhe dada a esmola em água, coitada, quando indaga o azul fundo que o dia lhe dá no céu!

Cismo amor, teimo tanto e fico triste… as horas escorrem intermitentes no desagrado com que se desprendem as lembranças que tenho tuas! E no fim, o rosto fica molhado, gritar vigorosa para tua surdez é como o miserável que se arrasta cansado na lucidez onde se prolongam, compridas, as ruas…

Na escassa possibilidade que cesses essas melodias alheias que te entretêm e que me esquecem, experimento o desassossego e inquietação que me confere a ambiguidade das incertezas! Anulo-me numa espera doentia de que só os desgostosos padecem, para quando te cansares de usar bijutaria que só os pequenos merecem, te assegurar a riqueza digna da mais exuberante e nobre das realezas!


-Joana Nardo

sexta-feira, 2 de julho de 2010

"Devias estar aqui rente aos meus lábios,



Para dividir contigo esta amargura dos meus dias partidos um a um" pois se julgas que a saudade desvanece com a mesma ingratidão com que te desacelera veloz o coração relembro-te, que não é o silêncio que amortece a euforia de encontrar tamanha poesia, na vulgaridade de um rosto estranhamente comum!

Crês ingénuo e inocente, que por me ver de ti ausente, esta bem-querença amolece na mesma duração em que desaparece um lembrança antiga, quase inexistente! Acredita que são as coisas mais insignificantes que me apelam à mais fácil recordação tua... E se te revejo na aragem fresca dos instantes, em vez do descompasso onde se beijam vorazes os amantes, amar-te-ia menos por me sujeitares à placidez deste silêncio áspero, que a tua falta continua?

"Eu vi terra limpa no teu rosto/ Só no teu rosto e nunca em mais nenhum", eu encobri minha fome em muita boca e gosto, mas na isenção do teu paladar saciante, por suposto, reconheço que tenho andado miserável e em jejum!




-Joana Nardo

quinta-feira, 1 de julho de 2010

gostaria de escrever de outra coisa que não o amor,



Mas na inconstância de minhas vontades, tu és aquela à qual não me é possível pôr termo ou freio, pois se o tempo se folga e alarga, nesta hora que então se atesta amarga, tu és o fruto que deliciosamente saboreio!

E que bom seria, amor, que este sargaço onde me escondo não fosse tão profundo e hediondo como estas palavras viciadas que te digo! Mas se amar é conceber vínculo e relação, então germinas-me o coração como a semente de uma mãe que se prende em seu umbigo.

Se tanto zelo por escrever, que desperdício seria gastar minhas palavras num desbarato que te ignore e desconsidere... E se é essa a única culpa com que terei de morrer, que seja por este amor não caber na estreiteza que este meu discurso te confere!




Joana Nardo.