quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Não tenho mais palavras. /Gastei-as a negar-te.../ (Só a negar-te eu pude combater/ O terror de ver/ Em toda a parte)



Resigno-me, desisto. Decepcionei-me e há muito que estou cansada! Mas na fadiga em que escrupulosamente te contesto, logo surge em manifesto a saudade que tanto oprimo, espezinho e detesto, a paradoxa repulsa de quem se perdoa do gesto de descer “mais um” degrau da eternidade de uma escada.

Odeio-me por ceder a este impulso e escrevo-te na contra-mão do meu orgulho e estima! Apelo quase que em oração ao escárnio e ao desdém, que quero expulso neste apregoar que tanto te protesta e lastima! Mas quando o sono me extenua e enfraquece, é tua figura que me vence e apetece… E esse rosto que trago na lembrança como refém é a ponte que me leva além da persistência que nos afasta e detém e onde a nossa ausência nos aproxima.

Mas tu sabes amor, que a abelha fenece após cravar o ferrão na semelhança de uma flor, cuja escolha lhe pareceu conveniente e acertada! E como vês, continuo escrava deste amargor, que é esta dor, este fio condutor que me leva sempre à solidão onde desmaiam tristes as casas da calçada.

“Mas o tempo moeu na sua mó/ O joio amargo do que te dizia.../ Agora somos dois obstinados / Mudos e malogrados, / Que apenas vão a par na teimosia”

-Joana Nardo

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