Nunca pensei apaixonar-me por um
gajo com um nome tão azeiteiro. Quando andava no ensino preparatório e me
condenavam a uma actividade de grupo, o destino era sempre fatal e derradeiro:
um Hugo pateta, mais um Hélder qualquer (os Hélder’s eram sempre os que
cheiravam pior), um Fábio André – geralmente um gajo de boné gasto pela
insistência dos dias e do sol- mais um gajo com o nome igual ao teu, aquele que
ainda não tem barba, mas que não esqueceu em casa as borbulhas pálidas e
gordurosas, o bigodinho que ameaça só nos cantos; Esses todos e eu, na
estreiteza de duas mesas juntas à pressão, no pretexto de uma tarefa escusada qualquer.
Eu e os palermas todos da turma, essa ordem alfabética que sempre me enervava e
desfavorecia. Cuspiam-se, riam sem razão em uníssono, atiravam coisas em
trajectórias incertas sem grande destino ou pontaria, insinuavam-se com orgulho
(aquele cheirinho a suor inerente ao jogo da bola no intervalo anterior),
trabalhar é que nada. É certo que eu, a Joana, a aplicada e disfarçada em
maquilhagem precoce e excessiva para idade, preferia olha-los com desdém a
terminar o trabalho requisitado. Nunca fui repreendida, no final das contas, eu
estava no grupo dos bacocos e a culpa atravessava sempre para o lado deles, que
pouco ou nada se importavam.
Por isso nunca gostei de rapazes com o teu nome, se calhar aos 13, também
não eras gajo para tomar banho, talvez te encostasses ao trabalho da miúda dos
cosméticos, possivelmente também te rias do escárnio que lhe causava o teu
cheiro nauseabundo, as tuas piadas sem debruço ou fundamento!
Agora tens barba e sabes falar com pausas e raciocínios. Penso que ainda
não és grande admirador da higiene pessoal, mas faz parte do teu charme peculiar
inspirado nos filmes à francesa. Continuas a usar meias com raquetes e calças
rotas nas extremidades porque arrastam no pavimento. Agora que penso bem, ainda
encaixas perfeitamente na crueldade de características que o teu nome por si só
te confere. Ainda usas a mesma roupa que te assombrou a adolescência e quando
te fito, jamais me irei esquecer do Hélder, do Fábio André e desse gajo com o
nome igual ao teu. E garanto-te que não te olho com desdém, não tens culpa do
mau gosto dos teus progenitores. Na pior das hipóteses, imagino-me numa
banheira cheia de bálsamos perfumados contigo.
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