quarta-feira, 7 de agosto de 2013

encontrei uns olhos castanhos (como os da minha poesia!)

  O amor passa sempre na minha rua, abranda, pára e continua, como quem segue a procurar. Às vezes já nem espero (tantas foram as vezes em que nem o vi passar!). Vai ligeiro com uma pressa que não aguarda nem recua, com uma cara que não é a tua e traz um dos pés já pronto para não entrar. Tenho tempo e já não espero, acho que resolvi escapar também: trilhar caminho nas minhas pedras, começar do zero… andar sozinha sem procurar alguém! 

  O amor ainda não o vi, mas logo te encontrei a ti e o tempo mal passou que ainda é cedo! Ainda não sei se me enganei ou confundi, mas sigo ali, como quem tem a certeza a ferro e medo. Não sei se espere agora eu por ti, sorte seria achar-te aleatoriamente justo à minha primeira paragem… mas deixar para trás este entusiasmo em que me senti, seria a covardia que eu tanto temi, era dar a cara à sacanagem!  E é este o desabafo, que não controlo ou, que ainda menos eu abranjo ou compreendo. Não sei se este é o silêncio que pede a calma, ou de um amor de ainda novo na alma, já me vai apodrecendo!!!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

graças a Deus que já não estou no 5º ano

  Já reparei que os meus textos têm muito mais aderência quando narro acontecimentos ridículos do passado, em vez do emparelhamento das minhas emoções incompreendidas (aquelas descrições cheias de nós, em círculos infinitos onde se confunde a sinceridade da minha prosa com a complexidade de uma poesia qualquer). Na verdade eu sou mais natural assim, grave e séria, à margem da compreensão, irresoluvelmente complicada, mas... confesso que "rir para não chorar" é uma filosofia de vida que tenho vindo a levar a cabo sem remorsos  ou arrependimentos.

  Então lembrei-me do primeiro dia de aulas do 5º ano. Nem eram bem aulas aquilo, era mais uma apresentação à turma, para se conhecerem os colegas. Era também o dia dos meus anos. Conhecia 60% da gente que ali estava, tinham andado a jogar ao cola-e-descola comigo na era dos piolhos na escola primária. Os rapazes transpiravam-se todos a jogar à bola,  davam pau e cacete nas canelas. As mochilas do ano anterior ainda rotas nos cantos de já arrastarem no asfalto, aqueles buraquinhos tímidos que mostravam os livros aborrecidos, acabados de encapar na papelaria. O gordo ia sempre à baliza, o escanzelado atirava-se sempre para o chão e fingia que chorava, os outros prosseguiam sem fazer caso, alguém gritava "f"$%-se, é falta c$%&?@$ !!!".  As miúdas cochichavam, riam-se baixinho, comparavam as calças novas da resina, ou da ruivinha de totós que fazia gestos obscenos com o dedo. Havia uma miúda que tinha umas de ganga em cor-de-rosa bebé!!! E eu esturricava ao sol de fatiota de linho (repito, era o dia dos meu anos), cheia de inveja, como se a porcaria das calças dreads que se repetiam em cores, feitios e tamanhos não bastassem -quanto mais largas em baixo, melhor- reparei noutra variável comum entre elas, uma tendência gritante da moda que mais uma vez me excluía: soutiens de alças de silicone!!! Ora, primeiro que tudo, para usar um singelo soutien de alças, existe a eminente necessidade de sustentação de mamas e eu nem caroços tinha!!! Mas alças de silicone... alças de silicone com brilhantes... já exigiam mamas em exagero, já era preciso caixa de ar, largura de costas, copas B, mamilos que se arrepiam com o frio. E eu ali, vestida de linho, sem nada. O máximo que conseguia arranjar era um soutien de desporto 100% algodão bordado na feira da Senhora da Hora com um bambi a comer flores no Disney prado . Fiquei desolada no meu aniversário, não tinha mamas, nem calças largas, amigos ou auto-estima. Tinha apenas 11 anos e isso, por si só não me bastava... (Podia ainda referir os fios com pérolas de brilhantes que se colavam ao cabelo, as mochilas da eastpak mas por hoje basta).

  Hoje tenho 22 e sou meio corcunda, acho que verguei um bocado para a frente. Parece-me mesmo que ouviram o desespero das minhas preces, mas voltaram a falhar na proporção. Acho que nunca cheguei a usar soutiens de alças de silicone, aquilo colava-se à pele com o suor, às vezes até arrancava pêlos!!! Ainda bem que já não faço anos no primeiro dia de escola (toda a gente se esquecia anyway), ainda bem que já não existem alcinhas transparentes… Graças a Deus que já não estou no 5º ano.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Eu podia ser a Taylor Swift ou a Elsa Raposo. Mas eu tenho um bocadinho mais de categoria.


  Os gajos são todos estúpidos. Os gajos foram estúpidos desde sempre e nunca se deram ao trabalho de disfarçar sequer. Nós, miúdas, é que fingimos não ver ao certo.

  O primeiro indício chegou cedo, andava eu ainda na 2ª classe. Gostava de um rapazito chamado Jorge, aquele tipo que usa camisinha ao xadrez e faz sempre os trabalhos de casa, o que é espertalhão, mas não precisa de lamber as solas da professora.  Era meio feínho, lembro-me que tinha uma espécie de borbulha permanente e avermelhada na bochecha. A dita cuja roubava-lhe qualquer tentativa de protagonismo por parte dos seus olhos banais e castanhos ou dos dentitos cerrados e pequenos que pouco se mostravam quando ria. Acabou comigo porque não pude ir ao magusto da escola, porque fui ao do ATL, em vez. Na verdade, ele queria era saltar em cima da Cristiana, a miúda popular e batoteira, a que todos andavam atrás, mas preferiu culpar-me a mim e às castanhas (e eu nem sequer gostava de frutos-secos ou de fogueiras!!!);

   Muito mais tarde apaixonei-me pelo gajo da paragem do autocarro, comecei a frequentar aquele banco regularmente, sem sequer entrar em transporte algum. Era só mesmo para o observar ao longe, pra ver o que tinha vestido e invejar-lhe a destreza de dedos a jogar snake no Nokia 3310 (creepy). A verdade é que já nos tínhamos cruzado antes, tínhamos amigos em comum que nos juntaram a jogar cartas quando ainda se usavam os chapéus de ganga e as bicicletas de cesto da Vilar. Mas ele era vaidoso e fazia capoeira e eu era toda trapalhona, sem qualquer tipo de desenrascanso para as artes marciais. Mais tarde virou-se para os graffitis e break-dance, sempre na front-line do aparato. Eu também queria vandalizar paredes, até arranjei um nome fictício para não ser apanhada pela polícia (ainda hoje me chamam essa m#$*%), comprei um marcador permanente de dvd’s e comecei a usar calças da resina. Não resultou à primeira, mas a maquilhagem e puberdade beliscaram-lhe a atenção a  certa altura. Perdeu o interesse de súbito depois de ir de férias para o Alentejo. Ainda hoje não percebo o que é que terá acontecido debaixo das azinheiras, mas é certo que ainda estremeço um bocado quando vejo o nome dele no musgo das paredes dos prédios.

  Parece que sempre tive tendência para os aparatosos, os que gostam de dar nas vistas. Aos 16 fiquei de queixo caído pelo beto de cabelo à foda-se com 2m de altura. Adorava falar do aquecimento central que tinha em casa e da empregada que lhe fazia a cama às 5ªs de manhã. Era meloso e desnecessariamente romântico, mandava-me mms’s com o meu nome escrito nos cadernos, todo brega e foleirão, mas eu gostava. Até ao dia em que planeámos ir os 2 à discoteca: ele disse que ia ficar em casa, que não tinha boleia de carro, mas eu fiz questão de ir estrear os sapatos de verniz vermelhos que a minha amiga tinha comprado na Bershka. No dia seguinte acabou comigo, afinal até chegou a sair, foi à discoteca do outro lado da rua e ficou a noite inteira a conversar com a miúda mais gira do hi5. Passei meses a chorar por essa criatura, nunca tinha visto um cabelo que se ajeitasse assim tão bem, em capacete... havia quem lhe chamasse o Manel dos morangos com açúcar, eu não podia abrir mão da minha pseudo-celebridade que vivia nos arredores da cadeia de Custóias!!!

  Mas verdade seja dita, com muita pena minha, também andei a brincar de arremesso com material perecível e valioso. O João Manuel porque era 5 dias mais novo que eu e tinha menos 1cm de altura e o João Miguel porque morava para os lados de Lisboa e adorava fazer-me as vontadinhas (ca chato). Agora gosto de gajos despenteados e narigudos como o primeiro e de intelectuais virados pra música como o segundo. Aliás, se virmos bem, João é nome de gajo com potencial, eu gosto do típico “João”.

  Eu até que gostava de me alongar mais um bocado, de continuar a enxovalhar os meus ex’s com muito carinho, com esta escrita reveladora e maldita, que não insulta, mas envergonha. Mas não posso. Ainda não há força nas pernas para descrever o capítulo das trevas. Sinceramente, temo comparações com a Taylor Swift  ou Elsa Raposo, mas também a conclusão é sempre a mesma: a culpa há-de ser sempre do magusto e das castanhas, do verão das azinheiras, do Cristo-Rei prós lados da capital, da Natacha Braga ou da tartaruga a descoberto no pescoço da serigaita lá da escola. Ninguém jamais se atreveu a dizer que a culpa é provavelmente minha, nem mesmo os envolvidos (e ainda bem!). É para o lado que almofada se amassa melhor, é da maneira que como mais um cheeseburguer ou um chocolatinho!

quarta-feira, 6 de março de 2013

às vezes mais vale criar uma conta no Badoo


  Hoje diverti-me a escandalizar as amigas com um pessimismo tão cruel, que lhes abalou um bocado a realidade. Aquele ligeiro tremor de terra-metafórico, que só sentem os que estão sentados na porcelana da sanita. É certo que me limitei a falar de mim, dos planos pro futuro que ainda não tenho, aquelas expectativas esvaziadas que se vão ensaiando num discurso de quem já chegou ao final da linha. Confesso que lhes saquei algumas expressões de terror “ai, pelo amor de Deus, as coisas não têm necessariamente que ser assim!”, os olhos a escancararem-se de medo, a voz a esganiçar-se de espanto, a mão que esconde da boca o embaraço, como se as minhas derrotas fossem precoces, um terrível presságio para os sonhos patéticos delas.

   Eu limitei-me a dizer com franqueza, que não gosto de Alicia Keys  e não me revejo nos dramas da Adele. Detesto peluches, rosas ou chocolates. Não uso casacos com capuchinhos de urso ou de gato. Quando tirei a carta, não escrevi no facebook  “mais um perigo na estrada, ehehe” e, felizmente, nunca me deu para mostrar as minhas grandes mamas num bikini com a legenda “verão volta, estás perdoado” . Não tenho qualquer interesse em filmes como o Star Wars, Avatar ou Senhor dos Anéis. Simpatizo com cães, mas sou uma gaja mais inclinada para os gatos e ainda sou capaz de aproveitar as noites de insónia para premeditar nos nomes dos filhos todos que gostaria de conceber, sei lá eu ainda com quem. Sou a emproada dos saltos altos que gosta de ver a bola e é comunista. Já para não falar que escrevo um blog chamado “Clausura dos Dias”, que em vez de me mostrar como uma grandessíssima intelectual, apenas reforça o meu estatuto já antigo de emo mal-resolvida.

    Quando era teenager achava que a minha felicidade e sucesso estavam directamente relacionados com a contagem decrescente para a extracção do meu maldito aparelho ortodôntico, mais a tentativa de uma Licenciatura aborrecida e esquisita e com o êxito naquela dieta radical que nunca consegui levar até ao fim. Lamento em reconhecer que não existe Teresa Guilherme nenhuma no mundo, que me consiga emparelhar com outra ave-rara qualquer. O que não é mau de todo, eu cá acredito que existem certas espécies às quais não se deve mesmo dar continuidade, mas… a rouquidão do Eddie Vedder recordou-me um filme cujo final concluía que, independentemente daquilo que uma gaja faça ou diga, a felicidade só é realmente verdadeira quando partilhada… Será que chegou a hora de criar uma conta no Badoo, ou será que devo continuar a fantasiar com o trashy hippie lá da escola, que me insulta e não toca viola e que gosta de conduzir sempre a 120?

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

cabra cega não arrisca no euro-milhões


  Eu nunca joguei no euro-milhões, mas já me senti tentada, confesso. Para os cobardes como eu, talvez o mais sensato seja começar por uma singela raspadinha, mas acabo sempre por dispor as moedas que trago ao vigor de um refrigerante. É que certezas já tenho eu poucas e eu bem que sei: a minha sede é bem mais previsível que uma sequência de números aleatórios, a minha boca murcha teima sempre em secar nos cigarros pensativos que fumo.

   A verdade é que não tenho grande habilidade em escolher rigorosamente nada ao acaso (exceptuando aquela vez em que ganhei um pacote de batatas fritas do Tesco numa celebração Erasmus). Na realidade, sou péssima a tomar decisões, independentemente da sua natureza/recorrência/previsibilidade. Os mais velhos repetem “sorte no jogo, azar no amor” e eu não consigo deixar de me perguntar se o provérbio funcionará pela ordem inversa. Se tenho sorte no jogo ou não, ainda desconheço, mas, por esta ordem de ideias e atendendo às minhas últimas investidas amorosas, tenho fortes razões para crer que esteja prestes a ganhar um granda prémio. Já matematicamente falando, trocar varáveis de uma equação, dá sempre uma valente cagada no fim e digamos que eu de fórmulas pouco ou nada conheço.

  Mas, ainda assim, o dinheiro insiste em gastar-se na garantia da minha sede, na segurança de um ice-tea de pêssego. Penso que ficaria desolada ao constatar que, afinal, tenho azar em ambas as coisas, pelo que a curiosidade se encolhe na possibilidade de uma tentativa. Tenho fortes razões para achar, que parte de mim ainda espera que esse azar seja reversível, pois eu preferia bem mais fazer outras apostas, eu dava tudo para prosseguir com o nosso jogo de cabra-cega. É que eu ainda não tirei a venda. Há muito que não me sinto zonza com o rodopio de voltas que me deste, mas já não te procuro mais. Não sei se com medo daquilo que vou ver, ou se temendo a possibilidade de já teres partido. Enfim, uma coisa é certa, com essa incerteza eu até consigo viver, essa confusa possibilidade de gostares ou não de mim. Já jogar no euro-milhões é outra história… e eu já nem 2€  tenho para um ice-tea.