Com certeza que qualquer um de nós já deu por si acompanhado
de alguém, que a certa altura (geralmente a menos conveniente) vos fez pensar “mas
afinal de contas… quem és tu, caralho?!”; Alguém que, pela exposição da convivência
e da intimidade, julgaram conhecer tão bem como os anúncios repetitivos e já
pouco surpreendentes do kinder chocolate.
Eu, já repetente nos desgostos amorosos, convenci-me que a
solução para todas as minhas inseguranças estaria na busca do homem ideal. Erradamente
e à semelhança dos anúncios de lingerie/ maquilhagem altamente manipulados pelo
Photoshop, fui levada a crer que o homem que toda a mulher quer (mas ainda não
sabe) é aquele que é bonzinho, mas que não faz as vontadinhas todas, o que é
bonitinho, mas não muito, senão as
outras olham todas e isso é uma grande chatice, o que é inteligente, mas não se
sente intimidado pelo teu vasto conhecimento em culinária ou pirotecnia a dois.
O que “só” tem olhos para ti. Eu, achei-me quase pioneira nesta experiência!
Afinal de contas, diz-se que as mulheres gostam é daqueles que as tratam mal,
dos que têm tatuagens e cheiram sempre a vinho e eu, outrora embriagada nesse
veneno preconceituoso e generalista, quis experimentar o outro lado da margem.
Nestas merdas, não se constroem pontes e vai ser lixado, porque vais acabar a
nadar de volta para o outro lado e vais estar cansada e desconfiada da corrente.
Lamentavelmente, os nice guys, os politicamente correctos, por
vezes revelam-se ainda mais cruéis e nocivos que os assumidamente cabrões e desonestos.
Aquele gajo que não parte um prato, geralmente é o que te vai estilhaçar o
coração sem aviso prévio e ainda passar com uma 4x4 cheio de adrenalina por
cima. Vais ser tão apanhada de surpresa que vais ficar atordoada e desorientada
a pensar como é que isto foi sequer acontecer. Tu que não te deixas enganar e
estás sempre atenta. Tu que pensaste que eras a dona de casa e amante consagrada
e pensaste que isto estava mais que no papo.
Os gajos bonzinhos geralmente são cobardes. São os aqueles
que amuam e não dizem o porquê de estarem chateados (parece que não são só as
mulheres que fazem isso!). Os que andam a moer qualquer coisita, mas que fingem
estar felizes porque a vida aborrecida e sem grandes atrevimentos deixou-os
assim dormentes na sua fraca competência de viver. Um nice guy, nada mas é que
uma alma que chegou atrasada às desventuras do amor e que ainda não tinha tido
a oportunidade certa para falhar redondamente.
Tu estás lá, como quem estica as pernas na mesa anã na
frente do sofá, confortavelmente segura de ti num relacionamento sem grandes
crises e desafios. Até chegar o dia que ele diz, que se calhar, é melhor ir “comprar
cigarros” e não levar a chave, nem voltar a tocar à porta. Sim, já visto acontecer muitas vezes. A rapariga de
coração partido que decide dar uma chance ao stalker que a perseguiu no
secundário “Ah, ao menos este gosta de mim”. A descrente no amor, que decide apostar
no rapaz outrora perpetuado na friendzone. Ou, como no meu caso, aquela que
achou por bem dar uma hipótese àquele gajo ainda meio chavalo, porque ele ri-se
todo quando a vê na frente, porque vai comprar
batatas fritas quando estás irritada e a ir às lágrimas na iminência de mais um
período menstrual. Aquele pateta que larga tudo para te ver, que beija o chão
que tu pisas com chulé recém-chegado das sapatilhas do ginásio. Cuidado! Não
quero tornar isto numa verdade pessimista e universal, mas se te identificas
com algum destes estereótipos, é bastante provável que estejas prestes a passar
por um desgosto calamitoso, que vai causar estragos sem precedentes.
Vai chegar o dia em que, de repente, sem que nada o fizesse
anunciar ele te mande uma sms a dizer “sabes, não dá mais”, “não és tu, sou eu”,
“acho que preciso de um tempo para mim”; O gajo que detestava Paulo Coelho, mas agora te esfrega com os clichés dele na cara. Aquele palerma que te idolatrava e,
que tu, consequentemente, foste adorando e bajulando na mesma medida, vai
perceber que lhe falta qualquer coisinha, e esse pequeno detalhe, não és tu certamente.
Talvez seja a Janete do curso de arquitectura ou a simples influência do amigo
solteiro que é alérgico a compromissos e latéx. Talvez seja a personagem
principal da nova série que ele assiste no Netflix, sabemos lá... Tu vais-te
sentir idiota ao relembrar que chegaste até a achar, que se calhar, o teu
namorado tão devotado em conquistar-te, gosta um bocadinho mais de ti, que tu
dele… Vais contorcer-te ao pensar que quase te sentiste mal por isso,
hahahahahaha!
A boa notícia, é que como em qualquer outra crise, chega o
clarão da lucidez, e ele vai-se arrepender. Talvez não te vá servir de grande
consolo, mas pode levar meses, ou anos. Pode ser que nem te diga nada. Mas
chega sempre aquele tesão da meia-noite solitário em que ele vai pensar que
provavelmente está solteiro porque foi um bocado parvo. Vai ter medo de morrer
sozinho e decompor-se ao lado da playstation, ou das meias com raquetes, ainda
por lavar. Ele vai pensar que aquela
histérica meio chata, que jogava numa liga bem acima da dele, na verdade
fez-lhe um favor tão grande, que agora é difícil encontrar algum contentamento.
Ele que achou que se conseguiu esta, se calhar conseguia qualquer uma, que o
céu é o limite. Ele vai na verdade apodrecer aos poucos nos seus remorsos e
angústias. E tu, que já curaste a ressaca da tristeza e da loucura, deixarás de
te perguntar o que é que fizeste de errado, ou pior, o que é podias ter feito de
maneira diferente. Vais estar certamente a jogar outra vez na tua liga, no
outlet dos despreocupadamente imperfeitos. Vais pensar onde raio é que tinhas a
cabeça para teres baixado os teus padrões e normas, num momento de insegurança
ou fraca estima.
Tu vais ficar bem, afinal, ele também te fez um grande favor
a ti: deixou-te mais livre e disponível para algo merecedor da tua dedicação e do
teu tempo já escasso! O importante é não deixar que ele te venda o gato, ou te
faça ponderar um ex-namorado qualquer igualmente idiota e desolador. Talvez
esteja na hora de aprenderes a ser feliz sozinha, para que se alguém te resolva
acompanhar daqui por diante não o faça sequioso por uma mera companhia, pela ameaça
recorrente da monotonia ou solidão, pelo cansaço do punho direito.
Eu repito: só não deixes que ele te venda o gato, ele vai
fazer-te muito jeito aos pés da cama no inverno quando concluíres que as
freiras é que estão bem, mas tu estás demasiado afeiçoada aos pecados mundanos
da moda e da tecnologia e o lesbianismo não é bem a tua cena.
Awesome!!! Bola prá frente!
ResponderEliminarDevias escrever mais ;)
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